O verão quente da Grécia

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A Grécia tem um calendário de pagamentos exigente durante os próximos meses, mas é no verão que o governo enfrentará as duas maiores barreiras: duas amortizações de 3,5 e 3,2 milhares de milhões, respetivamente em Julho e Agosto. Até lá, o governo terá de reembolsar 2823 milhões de euros ao FMI. O governo grego está a tentar arrecadar recursos para fazer frente às obrigações para com o FMI, adiando o braço-de-ferro decisivo nas negociações com as instituições europeias para Julho.

Para esse efeito, o governo grego espera obter 400 milhões com transferências de fundos de pensões mais 2000 milhões das autarquias gregas. Esta segunda fonte de financiamento parece, no entanto, altamente problemática. O decreto aprovado pelo governo está a ser contestado pelas associações de autarcas. O governo defende-se lembrando que esta medida já foi implementada por anteriores governos, bem como por outros países como Portugal ou França, e acusa a oposição de estar a usar os seus autarcas para combater o governo.

Do ponto de vista do Governo, é preferível que um cenário de incumprimento se coloque perante as instituições europeias, não apenas porque é com estas que se colocam as divergências políticas mais graves, mas também porque Varoufakis pretende ter no FMI um aliado na obtenção de um acordo favorável com o Eurogrupo.

Neste momento, não são claras as consequências de um eventual incumprimento da Grécia perante o BCE no próximo verão, mas é reconhecido por membros do governo que, sem acordo sobre a tranche de financiamento em falta, a Grécia não tem condições para fazer face a esse reembolso. Juncker, em declarações recentes, excluiu “a 100%” um cenário de incumprimento e saída da Grécia, mas outros responsáveis, como Mario Draghi, tem insistido mais na ideia de que a Zona Euro está “preparada para qualquer cenário”.

OS 7,2 mil milhões de euros em falta dependem do acordo sobre as medidas a implementar pelo governo grego. É aqui que reside o impasse nas negociações. A Alemanha considera que o acordo de 20 de Abril no Eurogrupo representou a extensão do segundo programa de ajustamento, ao qual se deverá seguir um terceiro programa. O governo grego, pelo contrário, definiu algumas linhas vermelhas, excluindo novas medidas de austeridade, como o corte de pensões e o aumento do IVA, a facilitação dos despedimentos e algumas das privatizações anteriormente previstas.

Assim, se a Grécia conseguir assegurar os pagamentos ao FMI até lá, o mês de Julho poderá ser decisivo. A Grécia tem hoje um excedente primário (saldo orçamental positivo, excluindo os juros da dívida), o que significa que, se entrar em incumprimento, pode suportar a exclusão dos mercados financeiros. Por outro lado, um incumprimento perante o FMI não é desejado pelas autoridades gregas e é difícil imaginar que um incumprimento perante o BCE não desencadeie retaliações ao nível do financiamento da banca grega. Sem acordo sobre as medidas, um cenário de rutura é cada vez mais difícil de excluir, como faz o presidente da Comissão Europeia. Serão, portanto, meses tensos até ao verão.

2 pensamentos sobre “O verão quente da Grécia

  1. Caro José Gusmão
    Tenho uma observação e uma questão a colocar-lhe.Começo pela observação: tenho visto noticias dando conta que o excedente primário grego,obtido no ano passado,esfumou-se.Portanto,na nova situação,será naturalmente dificil aguentar o impacto dos mercados financeiros
    E agora a questão:um cenário de rutura pode dar azo a que situação? A saida do euro que tem sido falada ao longo do ano?
    Cumprimentos,e já agora,parabéns pelo blog e votos de sucesso no comentário desta situação grega que pode ditar o destino de muitos paises na Zona Euro,e como tal,é para seguir-se com toda a atenção

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